quarta-feira, 13 de maio de 2015

UCRANIA: A AÇÃO FASCISTA APOIADA PELA CIA

Um tumor que ameaça a Europa

Higinio Polo

13.Mai.15 ::

Enredados na sua própria propaganda, os países da OTAN são incapazes de assumir que a crise ucraniana não estalou em resultado de uns “protestos cívicos” (além do mais, instigados e financiados em boa parte por países ocidentais), mas em resultado do apoio a um golpe de Estado e uma mudança de regime que pretende incorporar a Ucrânia numa aliança militar abertamente hostil a Moscovo. Instalaram um poder fascista. Desencadearam uma guerra civil. E os círculos mais agressivos e aventureiros do imperialismo querem convertê-la num confronto aberto com a Rússia.


Um ano depois da queda do presidente Yanukóvich, e do triunfo do golpe de estado em Kiev, a Ucrânia continua imersa numa guerra civil, que Poroshenko prometeu que ganharia num mês. É difícil encontrar um cenário onde a irresponsabilidade ocidental seja tão grande como na Ucrânia. Em um ano os responsáveis da diplomacia europeia e norte-americana passaram de estimular os protestos e financiar grupos de rufias e de provocadores enquanto - como fez Victoria Nuland, secretária adjunta do Departamento de Estado norte-americano - repartiam bolachas na praça Maidán, a contemplar impávidos uma guerra civil que já causou milhares de mortos neste país, e que pode derivar numa guerra europeia de maior envergadura se não se consolida a via diplomática estabelecida nos acordos de Minsk.
Entretanto, a ausência dos EUA nas negociações e a sua persistente tentação de acirrar os confrontos através do procedimento de armar o governo de Kiev e assessorar as suas tropas para a propagação de uma guerra que poderia implicar a OTAN abriu uma perigosa ferida na Europa. Obama, o Pentágono e o Departamento de Estado debatem o grau da sua implicação na guerra porque, na prática, já participam por interpostos actores, e têm enviado assessores, espias e mercenários. Victoria Nuland, além do mais, não teve a menor objecção em reunir-se com Andriy Parubiy, o dirigente neonazi que organizou o Maidán de Kiev com a cumplicidade da CIA norte-americana e da AW polaca, e que depois passou a dirigir o Conselho de Segurança Nacional do governo surgido do golpe de Estado. Habituados à manipulação e à propaganda, Washington e o quartel general da OTAN em Bruxelas, ajudados por um exército de jornalistas sem escrúpulos, ergueram um gigantesco edifício de mentiras que recorda outras guerras, como as da Jugoslávia e Iraque, sabendo que a memória da opinião pública é débil e que umas mentiras tapam outras. Porque o incêndio da Ucrânia tem uma lógica que adquire sentido quando se repara nas guerras iniciadas pelos EUA nos últimos anos na Jugoslávia, Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Iémen.
Sob Yanukóvich a rampante corrupção era moeda corrente e afogava o país, mas todos os passos dados até hoje pela mão do complacente - com Washington - governo de Poroshenko e Yatseniuk têm ido na direcção do desastre. A Ucrânia dirigida por Poroshenko é hoje um grotesco país onde mandam os capitalistas da nova oligarquia criada, como antes, a partir do roubo, mas também os rufias e assassinos, os comandantes de grupos armados de extrema-direita, que não hesitam em desfazer-se seja de quem for, os ladrões dos recursos do país e gente que parece não ter o juízo todo. Não é um exagero: basta ver os personagens que se passeiam pelo parlamento e pelos ministérios, armados, acompanhados de rufias fascistas que não hesitam em sacar granadas de mão dos bolsos. Embora divididos em facções, partilham a solidariedade de serem os beneficiários do golpe de Estado e os protegidos dos EUA. Yakseniuk (cúmplice e parceiro de um dos principais capitalistas ucranianos, Igor Kolomoisky, organizador de batalhões fascistas) é um dos homens de Washington em Kiev; Poroshenko oscila entre a aproximação a Berlim e a submissão aos EUA e, como Turchínov e o resto de governantes, ambos cestão envolvidos na corrupção e na incompetência, que afundou a economia do país, enquanto lançam apelos de ajuda a Washington e Berlim e procuram convencer o mundo de que a Rússia é um perigo. É revelador que todos eles se remetam a uma retórica patriótica que remonta a Stepan Bandera, e oculta Babi Yar e Volin, e que se demarca dos símbolos e da luta contra o nazismo durante a II Guerra Mundial. Não hesitam também em utilizar as mais grosseiras mentiras, entregando, por exemplo, a Washington fotografias tomadas na guerra da Geórgia em 2008… como provas da invasão russa na Ucrânia, deixando o senador norte-americano Jim Inhofe a fazer uma figura ridícula.
Durante o ano decorrido desde o golpe a corrupção não só não foi contida como aumentou, ajudada pela desordem da guerra, e dela participam todos os dirigentes de Kiev: a própria imprensa ucraniana diz que Poroshenko conseguiu enormes lucros com as suas empresas, e que não hesitou em mentir e em aproveitar-se das estruturas do Estado para enriquecer ainda mais. Assim, a economia ucraniana, que já atravessava uma dura crise, foi praticamente destruída: muitas fábricas deixaram de funcionar, em muitas empresas é habitual não se pagarem salários, as pensões são miseráveis e as condições de vida são cada vez mais duras, mas o governo golpista sabe que talvez não venha a ter outra oportunidade como a actual e os seus membros roubam às mãos cheias. E a guerra e o medo calam muitas bocas.
Poroshenko reconheceu que as suas forças tinham quebrado a primeira trégua de Minsk, sem dúvida aconselhado pelos serviços secretos norte-americanos, confiando numa rápida derrota dos rebeldes do Donbass, mas a ajuda russa em armamento e fornecimentos às milícias fez fracassar a ofensiva e forçou Poroshenko a assinar os acordos de Minsk II. Se durante a guerra fria os limites entre direita e esquerda, entre partidários e detractores dos EUA eram claros, hoje a situação é mais confusa. Acorreram ao Donbass voluntários de muitos países, embora em número reduzido, para ajudar as milícias: desde comunistas e esquerdistas até nacionalistas e membros da extrema-direita, passando por cossacos tradicionalistas e partidários da solidariedade pan-eslavista que vêm na Rússia a irmã mais velha, embora seja evidente que a referência antifascista e anti-imperialista é dominante entre as forças rebeldes, do mesmo modo que a simbologia fascista e nazi está muito presente na Guarda Nacional ucraniana e nos efectivos militares que lutam com Kiev, enxameados também de mercenários e aventureiros fascistas. Assim, o grupo neonazi russo Restrukt  (Restrutura) apoia o partido fascista ucraniano Pravii Secktor, circunstância que levou membros dos serviços de segurança ucranianos a acusar o FSB (Serviço Federal de Segurança) russo de infiltrar membros dessa organização (que não despertariam suspeitas, e que teriam sido comprados) no batalhão Azov (criado pelo governo golpista de Kiev e financiado pelo oligarca Igor Kolomoisky) com el objectivo de obter informação. É um de entre muitos exemplos, similar ao que os serviços secretos ocidentais estão a fazer.
Uma parte do nacionalismo russo apoia, por considerações pan-russas, os rebeldes do Donbass e, nessa constelação, encontram-se agrupamentos neonazis, da mesma forma que grupos de extrema-direita também simpatizam com os grupos fascistas do Maidán de Kiev, e alguns grupos de chechenos, com motivações opostas, combatem de ambos os lados. De igual forma, grupos de sérvios vieram apoiar os rebeldes do Leste da Ucrânia amparados na identidade eslava, que consideram ameaçada pelo Ocidente, tal e como constataram eles próprios nas guerras iugoslavas, e acorreram inclusivamente grupos direitistas húngaros que sonham com “recuperar” territórios romenos e ucranianos para criar uma Grande Hungria… que necessita do imprescindível requisito da participação da actual Ucrânia. Esses grupos conservadores são, apesar de tudo, muito minoritários entre os milicianos do Donbass. Alguns grupos russos falam também de “confronto imperialista” entre Washington e Moscovo, para postular uma estrita neutralidade. Para acabar de tornar a situação ainda mais confusa, o comprido braço dos serviços secretos, da CIA, o Mossad, o BND alemão, a AW (Agencja Wywiadu) polaca, e outros, possibilitaram o trânsito de mercenários do Médio Oriente para a Ucrânia, e de grupos islamitas da periferia russa, enquanto o FSB russo tenta que os combatentes jihadistas teleguiados pela CIA não alcancem a Ucrânia e a própria Rússia.
Se, graças ao Minsk II, os combates na Ucrânia cessaram, a guerra da propaganda prossegue. A fantasia para devotos da OTAN reza assim: o sonho imperial de Putin, como mostra a anexação da Crimeia, reclama esferas de influência exclusivas na Europa e provocou a mais grave crise desde a desaparição da URSS. No embrulho devocional vai também o papel de Putin como agressor na guerra, o derrube do avião malaio, a violação das fronteiras da Ucrânia, a movimentação de tropas russas no Donbass, e a violação da legalidade internacional. Não importa que nenhuma dessas acusações tenha sido demonstrada, embora não haja dúvida de que as milícias do Leste não teriam podido resistir sem a ajuda russa em armas, fornecimentos e alimentos. Na gigantesca campanha propagandística ocidental não faltam igualmente esforços para que ninguém recorde o estímulo norte-americano e europeu para derrubar um governo, o de Yanukóvich, eleito pela população ucraniana em eleições que nem os EUA nem a União Europeia consideraram ilegítimas; e é ocultado o apoio ocidental à violência desencadeada pelos bandos fascistas (dezenas de polícias morreram por disparos de bala em Maidán, por exemplo) enquanto se difundia a bondade de um suposto “movimento pacífico” que desejava “unir-se à Europa”, tal como permanece na sombra que, nos meses que antecederam a queda de Yanukóvich se organizou o treino militar de grupos de mercenários e fascistas na Polonia para os enviar depois ao Maidán de Kiev; nem que, evidentemente, se referencie a paulatina expansão da OTAN no Leste da Europa, a guerra de provocação da Geórgia, o escudo antimísseis, a intenção de incorporar a Ucrânia e a Geórgia na OTAN, o golpe de estado em Kiev.
É patente a debilidade dos argumentos de Washington, tal como a sua hipócrita indignação posterior pela ajuda russa às milícias, uma vez que se o conflito tivesse sido iniciado Putin a crise ucraniana não seria sequer compreensível porque ¿para quê iria Moscovo criá-la se o governo de Yanukóvich mantinha boa relação com a Rússia? E, após o golpe de estado pró-ocidental, ¿podia Moscovo abandonar à sua sorte a população rebelada contra Kiev e que teria sido esmagada pelo governo golpista? Mas para esses especialistas norte-americanos no lançamento de gigantescas campanhas publicitárias, o golpe de estado de Kiev converteu-se na “revolução da dignidade”, e os seus clientes ucranianos recordam-no cada dia na imprensa. Um ano após a queda do governo de Yanukóvich, continuam sem esclarecimento os assassínios cometidos pelos misteriosos franco atiradores que causaram uma matança em Maidán, e que foram o rastilho para o derrube do governo. Nem o gabinete golpista de Kiev nem os EUA mostraram o menor interesse em que se investigue, enquanto os oligarcas repartem o saque e o território: Igor Kolomoisky, um dos milionários mais corruptos da Ucrânia, financiador de grupos nazis, um personagem que chegou a utilizar grupos de rufias para impor os sus desejos, que compra juízes e consegue sentenças favoráveis ou, se necessário, as falsifica, é hoje governador de Dniepropetrovsk.
O Procurador-Geral, Viktor Shokin, que descuida a luta contra a corrupção e o crime, que desdenha a investigação sobre os franco atiradores do Maidán nos dias do golpe contra Yanukóvich, e que não tem a menor intenção de esclarecer a terrível matança do edifício dos sindicatos de Odessa, trabalha, em contrapartida, para ilegalizar o Partido Comunista, a única força política que tenta limitar o poder dos corruptos empresários-ladrões; porque o Partido Comunista é também o único partido que denuncia o fascismo na Ucrânia, que reclama a dissolução dos bandos paramilitares nazis e pede, em vão, protecção para os monumentos e símbolos da luta contra os nazis durante a II Guerra Mundial.
Os EUA debatem-se entre uma maior implicação na guerra e o envio de armas. Influentes fundações privadas e sectores do Pentágono e do governo inclinam-se para o envio de armamento, embora tenham consciência de que isso não converteria o exército ucraniano em uma força capaz de ganhar a guerra civil, e poderia criar una difícil situação com Moscovo. Entretanto, outros sectores da administração norte-americana, embora reconheçam os riscos de desafiar a Rússia, um país dotado de um enorme arsenal nuclear, apostam em armar Kiev confiados em que uma guerra de desgaste acabará por afectar a economia russa e, eventualmente, poderia afundar Putin, ou, pelo menos, tornar inviável o esforço de recomposição em União Euroasiática que Moscovo projecta. Todo isto, em Washington, no meio de absurdas discussões sobre se devem enviar para a Ucrânia armas “ofensivas” ou “defensivas”, quando o certo é que uma escalada na guerra teria uma difícil salda, e que a tentação de anular a Rússia e amarrar mais a União Europeia através de uma guerra continental está muito presente nos estrategas do Pentágono e na Casa Branca.
Podem dar ideia do estado da opinião gerada em Washington os comentários de um dos analistas do CSIS, Center for Strategic and International Studies, o mais importante “laboratório de ideias” da capital norte-americana para assuntos de política exterior. Andrew C. Kuchins, director do programa para a Rússia e Eurásia do CSIS, apresentava o assassinado Boris Nemtsov como um patriota e demonizava Putin, assinalando que o discurso do presidente russo no parlamento em Abril de 2014 talvez indique o “ponto de inflexão da Rússia para um estado fascista”. É óbvio que, para aqueles que assim pensam, a intervenção militar aberta na Ucrânia estaria mais do que justificada, mesmo que por interpostos actores, mercenários ou soldados dos países mais agressivos, como a Polonia ou os bálticos. No fim de contas, pode sempre argumentar-se com os perigos de um “iminente ataque russo” ou pretextos semelhantes aos que levaram à agressão norte-americana no Iraque.
O estranho assassínio de Boris Nemtsov (que era, hoje, um personagem irrelevante na Rússia) pode ter implicações ligadas à crise ucraniana, e não pode descartar-se o braço comprido de Nuland e dos círculos mais russófobos do governo norte-americano, sobretudo ante a evidência de que a desaparição de Nemtsov não beneficia precisamente Putin. Convertido o presidente russo num espantalho belicoso, Washington não quer reconhecer a sua própria responsabilidade no aumento da tensão internacional: há que recordar que Putin iniciou a sua presidência tentando acomodar-se a um mundo unipolar dirigido pelos EUA, reclamando respeito e reconhecimento dos interesses russos. O patente desprezo pelo presidente russo, a evidência de que os EUA prosseguem especulando e acalentando uma hipotética fragmentação da Rússia, como fizeram com a União Soviética, fizeram disparar todos os alarmes em Moscovo, e levaram Putin, ainda durante a presidência de George W. Bush, ao seu discurso de Fevereiro de 2007 em Munique, onde denunciou o expansionismo norte-americano o incumprimento de todos os acordos, subscritos ou tácitos, entre Moscovo e Washington depois da desaparição da União Soviética. Desde então, e apesar de gestos teatrais como o do botão de “reinício” oferecido por Hillary Clinton (que não se concretizou em qualquer mudança na política exterior norte-americana), os EUA têm continuado a aproximar o seu dispositivo militar das fronteiras russas.
França e Alemanha implicaram-se na procura de uma solução política para a Ucrânia, mas a sua margem de manobra é escassa, porque predominam nos seus governos as obrigações como membros da OTAN, e Washington e o quartel-general aliado de Bruxelas elaboraram um discurso que, no essencial, foi imposto a todos os membros e foi também adoptado por Paris e Berlim, que, embora acompanhem contrariados o discurso belicista, se vêm obrigados a impor sanções económicas a Moscovo e a discutir hipóteses mais perigosas, onde não se descarta o envio de armamento e inclusivamente de forças militares, embora de momento essa possibilidade seja discutida em segredo. Enredados na sua própria propaganda, os países da OTAN são incapazes de assumir que a crise ucraniana não estalou em resultado de uns “protestos cívicos” (além do mais, instigados e financiados em boa parte por países ocidentais), mas em resultado do apoio a um golpe de Estado e uma mudança de regime que pretende incorporar a Ucrânia numa aliança militar abertamente hostil a Moscovo. Se te mostras agressivo com os outros, não podes esperar que te recebam de braços abertos.
Nem a União Europeia nem muito menos os EUA querem reconhecer que a aposta em integrar a Ucrânia na OTAN é uma verdadeira provocação contra a Rússia (¿imagina alguém a hipótese de que México ou Canadá se integrassem numa aliança militar agressiva contra Washington?), que, para além de desnecessária, trouxe uma guerra civil, destruiu a economia ucraniana, abriu uma perigosa frente na Europa e dinamitou a médio prazo a possibilidade de uma convivência amistosa e pacífica no continente. Que a guerra ucraniana tenha sido produto de cálculo ou uma consequência imprevista do golpe de Estado não mitiga a responsabilidade estado-unidense. A guerra que a aventureira política exterior norte-americana fez deflagrar é agora apresentada como responsabilidade exclusiva de Moscovo e como prova do perigoso “expansionismo” russo, mas esquece-se que após a dissolução do Pacto de Varsóvia, o destino manifesto da OTAN foi, não iniciar o seu desmantelamento, mas uma acelerada expansão em direcção às fronteiras russas que a levou a instalar-se em oito países (Polónia, Estónia, Letónia, Lituânia, República Checa, Eslováquia, Roménia, Bulgária) e tentar fazê-lo na Geórgia e Ucrânia, sem esquecer as suas instalações em algumas das velhas repúblicas soviéticas da Asia central. Foi esse o verdadeiro expansionismo militar das duas últimas décadas. Porque Washington não quer entender que a segurança tem de ser um principio compartilhado, e que levar o dispositivo militar da OTAN até às próprias fronteiras russas não é apenas uma provocação mas também a ruptura dos instáveis equilíbrios internacionais.
As acusações e alarmes, sempre sem provas, lançadas contra a Rússia pelo norte-americano Philip M. Breedlove, comandante das forças da OTAN na Europa, ou a visita secreta a Kiev, em Janeiro de 2015, do general James R. Clapper, director da Inteligência Nacional norte-americana, entre outras, são o reflexo da visão dos falcões de Washington. O secretário da defesa, Chuck Hagel, e o chefe do Estado Maior conjunto, general Martin Dempsey, também apoiam o envio de armamento a Kiev, e os alarmes lançadas pelo duro Zbigniew Brzezinski sobre um hipotético ataque da Rússia aos países bálticos, vão na mesma direcção: querem enviar armas para a Ucrânia, envenenar a situação e tornar irreversível uma guerra europeia, talvez global, e isso pode ser realizado através de diferentes vias, porque os falcões de Washington não têm demasiados escrúpulos: não há muito el general Wesley Clark declarava na CNN sobre os novos islamitas que degolam perante as câmaras de televisão: “Criámos o Estado Islâmico com financiamentos dos nossos aliados”.
A recente declaração do Partido Comunista ucraniano, principal força da oposição, agora perseguida e reduzida, terminava com uma preocupante proclamação dirigida a ucranianos e europeus: “digam não à guerra e ao fascismo”. Porque é esse o risco, o tumor que ameaça a Ucrânia e a Europa. Há outros problemas para a Europa, desde logo, acrescentados à severa crise económica e às fissuras na zona do euro: desde a imprevista rebelião grega, que Bruxelas pretende subjugar; até à resposta dos poderes reais ante a hipotética emergência de um movimento opositor que, ainda que de maneira confusa, impugne em diferentes países a construção neoliberal da União Europeia; passando pelo reforço da extrema-direita, que não preocupa tanto pelo seu modelo social como porque pode fazer retroceder as formações conservadoras hoje dominantes; ou inclusivamente as artimanhas do pouco fiável parceiro britânico, testa-de-ponte norte-americana na Europa, juntamente com os revanchistas governos polacos e bálticos; e, por fim, o desafio do terrorismo que a própria Europa e os EUA contribuíram para criar, mas nenhum desses problemas é tão grave como a guerra na Ucrânia e a possibilidade de que se expanda ao resto do continente se não se consolida a via diplomática.
O pragmatismo de Angela Merkel, impulsionando os acordos de Minsk, tem uma dupla interpretação: por um lado, sabe que não pode se vencer a Rússia numa guerra global e, por isso, caminha sobre o arame da diplomacia; por outro, embora quisesse por Moscovo de joelhos, sabe que essa vitória não seria alemã mas norte-americana, e isso impele Berlim ao equilíbrio entre a assumida submissão a Washington (a OTAN, etc.), o interesse próprio pela estabilidade europeia, e os sempre presentes receios germânicos face ao grande país eslavo que se nega a aceitar a supremacia ocidental.
Por sua parte, os EUA querem uma Rússia débil, e não renunciam à sua fragmentação, que tornaria possível o controlo norte-americano das jazidas de hidrocarbonetos e, nesse cenário, não é casual que os EUA não participem na solução pacífica da crise ucraniana: uma guerra aberta submeteria Moscovo a uma dura prova, impediria a reconstrução dos laços entre as antigas repúblicas soviéticas e bloquearia a sua modernização económica. Ao mesmo tempo, para a União Europeia, a expansão da guerra ucraniana suporia um novo prego no caixão da impotência estratégica e da submissão em que Washington quer encerrar Bruxelas: um confronto entre a Rússia e a União Europeia na Ucrânia, uma ferida aberta e a sangrar no continente, é a melhor hipótese norte-americana para fortalecer o seu próprio poder através da OTAN, encurralar a Rússia, y para se preparar para a grande batalha das décadas próximas: China.
Texto completo em: http://www.lahaine.org/un-tumor-que-amenaza-a-europa

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