sábado, 21 de fevereiro de 2015

JORNALISMO COMPRADO, VENDIDO...




 

Líbia, fevereiro de 2011. Os jornais diários, supostamente “ sérios”, do mundo anunciam, com manchetes chamativas, alarmantes que Muammar Khadafi estava bombardeando seu povo, que ia “envenenar ás águas do país que pelas ruas corriam rios de sangue”. Salvo vozes solitárias, como Jordan Rodrigues, correspondente da venezuelana Telesur, os meios massivos de comunicação de grande circulação, repetiam as noticias sem verificar sua veracidade. Pior ainda: publicavam falsidades sem conhecimento, por dinheiro, leia-se dólar, com o objetivo de criar o clima propício para que as Nações Unidas – ONU- , poucas semanas depois, em 27 de março de 2011, autorizasse os bombardeios da OTAN sobre a Líbia, bem como a invasão do país e o assassinato de Khadafi.

Essa é uma confissão de Udo Ulfkotte, um dos mais prestigiosos jornalistas da Alemanha, em seu livro Jornalistas Comprados (Gekaufte Journalisten, Editora Kopp), um êxito de vendas. Em seu livro, Ulfkotte admite haver aceitado subornos para escrever, entre muitos outros artigos tendenciosos,  um dos quais denunciava supostos planos de Khadafi para usar gás venenoso contra seu povo.“ Em inumeráveis ocasiões pus minha assinatura em notas/artigos que me entregaram os serviços de inteligência dos EUA, da Alemanha ou da OTAN. Menti, traí, recebi subornos e ocultei a verdade da opinião pública. Não fazia jornalismo, sim propaganda. Me envergonho, ainda que seja tarde para revertê-la.” E advertiu: “ Hoje acontece o mesmo: há jornalistas subornados para mentir e convencer as pessoas sobre a necessidade de uma guerra contra a Russia”.

Ulfkotte acaba de completar 55 anos. Estudou jurisprudência e ciências políticas em Freiburg e Londres. Tem 25 anos de jornalismo, 17 dos quais foi editor de um dos diários mais importantes da Alemanha, o Frankfurter Allgemeine Zeitung. Como correspondente de imprensa viveu no Iraque, Iran, Afganistão, Arabia Saudita, Egito, entre outros países do Médio Oriente. Politicamente se considera um nacionalista de direita, o que explica a fúria que sente pelo que considera a “ colonização” da Alemanha e Europa pelos EUA. “ A Alemanha se converteu num pais bananeiro”, fazendo alusão às republiquetas bananeiras latinoamericanas. Ulfkotte foi colaborador do ex chanceler Helmut Köhl e, atualmente, se identifica com o movimento racista antiislâmico Pegida.

Segundo documenta em seu livro, em parte autobiográfico, há um tráfico de informações escritas que vão desde a embaixada dos EUA, em Berlim, até as principais redações dos meios de comunicação alemães. “Passam a informação ou diretamente mandam redigido o artigo ou o editorial que querem publicar”. Ulfkotte fornece uma lista hiperdocumentada  com nomes e sobrenomes  tanto dos jornalistas - se inclui – como das organizações que  comum predominante “ de acordo com os pontos de vista dos EUA, ou da OTAN. O esquema, diz Ulfkotte, se repete para os programas de rádio e televisão. “ Salvo poucas exceções, as redações europeias são sucursais da CIA e da OTAN”.

Como reagiu o poder midiático em relação ao livro?

“ Quando os advogados do Frankfurter Allgemeine Zeitung souberam que o livro estava sendo impresso me enviaram uma carta me advertindo sobre as consequências legais que enfrentaria por publicar nomes e segredos. Eles sabem que eu tenho provas de tudo”, afirmou Ulfkotte em uma entrevista ao diário Russia Insider. E esse livro que, desde 2014, é best seller na Alemanha, é, “ estranhamente ”, pouco conhecido no resto do mundo.  “ Nenhuma das empresas de comunicações permite noticias sobre “ Jornalistas Comprados “, informou o diário russo. Nenhum jornalista pode fazer uma matéria sem arriscar-se a ficar desempregado. Portanto estamos diante de um livro que é um êxito editorial de vendas porém a nenhum jornalista é permitido escrever ou falar dele”.

É essa a liberdade de imprensa que os hipócritas da mídia nacional e internacional apregoam!

Por que decidiu Ulfkotte dar esse passo? Ulfkotte responte: “ Agora estão buscando uma guerra na Europa e usam como pretexto a Ucrânia. E isso me preocupa. Não quero mais guerras. Não quero ser parte do extenso braço de propaganda da OTAN. Não quero apoiar o belicismo. Estou preparado para assumir as consequências”. Prontamente gracejou com o jornalista do Russia Insider: “Talvez tenha que pedir asilo na Russia como o fez o espião norteamericano Edward Snowden”.

Sobre o conflito na Ucrânia, Ulfkotte acredita que a manipulação das notícias é massiva. Segundo ele, não há dúvidas de que, quando o semanário alemão Der Speigel publicou a informação de que o Boeing malaio MH 17 foi derrubado sobre  a Ucrania por um míssil russo, o fez sob inspiração dos serviços especiais da CIA e OTAN, ainda que sem apresentar provas. Ulfkotte recorda que essa noticia serviu de pretexto para que o Ocidente, leia-se os EUA, impusesse sanções econômicas contra a Russia, algo que para ele deve ser interpretado diretamente como “ uma declaração de guerra econômica em grande escala, logo complementada com a redução artificial do preço do petróleo e a depreciação do rublo, tudo orquestrado com o mesmo fim”. ( grifos meus).

Depois ficou provado que o Boing MH 17 foi derrubado por forças da Ucrânia apoiadas pela OTAN e EUA. Essa é a prática o modus operandi  do jornalismo comprado, vendido, do qual, infelizmente, a mídia brasileira faz parte.

Fonte: rebelion.org

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