domingo, 16 de junho de 2013

A ESPECULAÇÃO DOS ALIMENTOS



Segundo especialistas, a especulação financeira com  produtos agropecuários, principalmente cereais e grãos, é uma causa dos preços voláteis dos  alimentos e ajuda a criar uma escassez artificial no momento em que a fome afeta centenas de milhões de pessoas. Os governos e as instituições internacionais não conseguiram ainda os meios necessários  para reduzir essas práticas.

A União Europeia (UE) está discutindo a atualização de seu  sistema para regular a especulação, incluindo os produtos agropecuários, conhecida como Diretiva Relativa aos Mercados de Instrumentos Financeiros (MiFID). Mas uma análise das organizações nãogovernamentais,  Foodwatch  e Oxfam da Alemanha , afirmam  que o projeto tem lacunas significativas.

De acordo com Thilo Bode diretor do Foodwatch, "Os grupos de pressão, que representam, principalmente ,o setor financeiro, tem bloqueado o processo legislativo europeu. Espaços legais permitem que os especuladores  e deixem de operar no mercado organizado e regulado e mudem suas operações para  o mercado de transações privadas, quase completamente desprovido de regras.”.

Os especuladores se  beneficiam das inúmeras exceções que os lobbies financeiros impuseram  ao projeto para continuar as suas transações não controladas. Para eliminar tais exceções, a Oxfam e Foodwatch exigem que a UE introduza os chamados limites de posição vinculantes, que estabelecem para cada banco ou fundo de investimento um número máximo de contratos de futuro (transações de compra e venda de contratos e não dos produtos em  si).

Através destes contratos, é possível especular com o  aumento ou queda do preço no futuro, agindo unicamente nos mercados financeiros dizem os  especialistas  Monica Vargas e Olivier Chantry da organização nãogovernamental  Observatório da Dívida na Globalização. Ao definir limites efetivos  impede-se que  operadores individuais controlem e manipulem  os  preços nos mercados. Além disso, promove a transparência do mercado.

Foodwatch e Oxfam soliciam  a exclusão dos mercados de produtos agropecuários  os investidores institucionais, tais como companhias de seguros e fundos especulativos, e que se  proibam  os certificados e outros derivados que são usados
​​em transações financeiras com os alimentos.

No entanto, vários bancos e fundos de investimento estão renunciando especular com produtos agropecuários e outros reconhecem os  efeitos nocivos da especulação. Em 26 de maio, o Banco DZ, o quarto maior da Alemanha e que representa mais de 900 pequenos bancos e caixas  regionais de poupança, decidiu abandonar definitivamente as operações com produtos agropecuários.

Os líderes do setor, o Deutsche Bank e a companhia de seguros Allianz,  continuam a dirigir a maior parte dos fundos investimento com alimentos  na Alemanha, um negócio de 14 bilhões de dólares, segundo  estimativas da Oxfam. Os fundos globais de investimento nos mercados agropecuários movimentam  um volume estimado de 72 bilhões de dólares.

O Deutsche Bank, o maior banco da Alemanha e um dos maiores do mundo, defende suas operações com  alimentos argumentando que não há provas definitivas de que tais operações contribuem para a volatilidade e escassez.

Mas seus pesquisadores afirmou em um documento de março de 2011, que "em determinados momentos, as operações  excessiva podem distorcer, temporariamente, o funcionamento normal do mercado, com conseqüências potencialmente graves para os agricultores e consumidores."

Se os especuladores estabelecem preços a níveis incompatíveis com os fundamentos do mercado, os resultados podem ser problemáticos.

Em outro documento, datado de janeiro de 2011, analistas do Deutsche Bank apontam  que "os aumentos de preços devem-se a fatores que afetam a oferta e a demanda (população, renda, produtividade, preços de energia, reações às medidas  políticas), mas em certas circunstâncias, tais especulações podem ter afetado o movimento dos preços. "

Fonte: Julio Godoy – IPS/Rebelion

Sem comentários:

Enviar um comentário