domingo, 7 de abril de 2013

CONFLITO EUA, CORÉIA DO NORTE: O QUE A MÍDIA NÃO DIVULGA


O que está por trás do conflito entre os EUA e a Coréia do Norte?

O que está acontecendo  entre os EUA e a Coréia do Norte  gerou manchetes como "aumenta as tensões da Coréia" e "A Coreia do Norte ameaça América"
Vejam o que informou o  New York Times(30/03/13):

"Esta semana, o jovem líder da Coréia do Norte, Kim Jung-un, ordenou a seus subordinados para se preparar para um ataque de mísseis dos Estados Unidos. Ele apareceu num  centro de comando na frente de um mapa na parede, com o  atrevido e improvável título de "Planos para atacar o território dos EUA." Poucos dias antes de seus generais se gabavam  de ter desenvolvido uma ogiva nuclear "estilo coreano" que poderia caber em um míssil de longo alcance. "
Os Estados Unidos sabe que as declarações norte-coreanos não estão sustentadas por um  poder militar suficiente para implementar suas ameaças retóricas, mas, de qualquer forma,  a tensão parece estar aumentando. O que está acontecendo? É preciso voltar um pouco no tempo para explicar a situação.

Desde o fim da Guerra da Coréia, há 60 anos o governo da República Popular Democrática da Coréia do Norte,  tem feitos, repetidas vêzes,  praticamente as mesmas quatro propostas para os Estados Unidos. Estas são as seguintes propostas:

1. Um tratado de paz para acabar com a Guerra da Coréia.

2. Reunificação da Coréia, "temporariamente" dividida em Norte e Sul desde 1945.

3. O fim da ocupação dos EUA da Coréia do Sul e da suspensão dos simulacros  de combates  anuais de um mês de duração entre os EUA e a Coréia do Norte.

4. Negociações bilaterais entre Washington e Pyongyang para acabar com as tensões na Península Coreana.

Ao longo dos anos os Estados Unidos e seu protetorado Sulcoreano rejeitam  cada uma das propostas. Como resultado disto , a península tem sido extremamente instável  desde 1950. Agora, chegou a um ponto que Washington tem usado seus jogos de guerra anuais, que começou no dia 28  de março, para organizar um ataque nuclear simulado contra a Coréia do Norte como voôs de dois bombardeiros B-2 Stealth com capacidade nuclear, na região. Três dias depois a Casa Branca enviou àl Coréia do Sul aviões de combate não detectáveis  F-22 Raptor, o que aumentou ainda mais a tensão.
Vejamos o que há por trás dessas quatro propostas:
1. EUA se recusa a assinar um tratado de paz para acabar com a Guerra da Coréia. A falta de um tratado significa que a guerra pode começar a qualquer momento. A Coreia do Norte não quer uma guerra com os Estados Unidos, o Estado militar mais poderoso da história. A Coréia quer um tratado de paz.
2. As duas Coreias são o resultado de um acordo entre a União Soviética (que faz fronteira com a Coréia e durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a libertar do Japão  a parte norte do país) e os Estados Unidos que ocupou a metade sul. Embora o socialismo prevaleça  no norte e o capitalismo no sul, a divisão não seria permanente. As duas grandes potências acordaram em se retirar  em poucos  anos e permitir a reunificação do  país. A Rússia o fez; Estados Unidos, não. Depois veio a devastadora guerra de três anos em 1950. Desde então, a Coreia do Norte fez várias propostas diferentes para acabar com a separação que dura  desde  1945. A  mais recente é "um país, dois sistemas". Isso significa que, mesmo que ambas as partes se juntem, o sul permanece  capitalista e o norte socialista. Vai ser difícil, mas não impossível. Washington não quer. Tentar fazer com que  toda a península fique sob  o seu guarda-chuva militar diretamente  na fronteira com a China e também com a Rússia.
3. Desde o fim da guerra, em 1950, Washington mantem  entre 25.000 e 40.000 soldados na Coreia do Sul. Junto com frotas, bases e instalações de bombardeiros nucleares  e instalações de tropas dos EUA muito próximas  da península, esses soldados são ainda um lembrete de duas coisas. Uma delas é que "nós podemos esmagar o norte" e a  outro é " a Coreia do Sul nos pertence ." Pyongyang o vê desta maneira (e mais,  desde que o presidente Obama decidiu "pivotar" para a Ásia). Embora este “pivotar” por sua vez, contenha aspectos econômicos e comerciais, seu principal objetivo é aumentar o  já considerável poder  militar na região para intensificar a sua ameaça à China e à Coréia do Norte.
4. A Guerra da Coreia foi basicamente um conflito entre a República Popular Democrática da Coréia do Norte e os Estados Unidos. Isto é, apesar de vários países da ONU tenham lutado  na guerra, os Estados Unidos assumiram a guerra, dominou a luta contra a Coreia do Norte e foi responsável pela morte de milhões de coreanos ao norte da linha divisória do paralelo 38 . É inteiramente lógico que Pyongyang trate de negociar diretamente com Washington para resolver as diferenças e alcançar uma solução pacífica que leve  a um tratado. Os EUA tem se recusado, sistematicamente,  a fazê-lo.

Estes quatro pontos não são novos. Foram propostos  na década de 1950. Na década de 1970, Jack A. Smith, por  três vezes, visitou a República Popular Democrática da Coréia do Norte, num total de oito semanas, como jornalista do periódico americano  The Guardian. Diversas vêzes,  nas  discussões com altos dirigentes me perguntavam por  um tratado de paz, a retirada das tropas dos EUA do Sul e negociações  diretas. Hoje, a situação é a mesma. Os EUA não cedem  uma polegada.
Por que não? Washington quer se livrar do regime comunista antes de permitir que a paz prevaleça na península. Nada de "um Estado, dois sistemas", por Deus! Quer um Estado que promete lealdade, adivinha quem?

Enquanto isso, a existência de uma  "beligerante" Coreia do Norte justifica que os  Washington cerque o norte com um autêntico  anel com poder de fogo real no Noroeste do Pacífico, o suficiente próximo  para quase queimar a China, mas não completamente. A "perigosa" República Popular Democrática da Coréia do Norte também é útil para manter o Japão dentro da órbita dos EUA e também uma outra desculpa para o antes pacífico Japão possa  se orgulhar de seu já formidável arsenal.

Neste contexto vou citar um artigo de Christine Le Hong Hyun e publicado em 15 de fevereiro de 2013 no Foreign Policy in Focus:

"Qualificar  a Coreia do Norte como a maior ameaça à segurança da região esconde a natureza falsa da política do presidente dos EUA Barack Obama na região, em particular a identidade do que seus assessores chamam de" paciência estratégica " por um lado e por outro, a postura militar e a aliança com falcões regionais implantados. Examinar a  agressiva política de Obama em relação a Coreia do Norte e suas conseqüências é essencial para entender por que as demonstrações de poder militar (da política por outros meios, nas palavras de Carl von Clausewitz) são o único meio de comunicação com os Estados Unidos que parece ter a  Coreia do Norte neste momento. "

Aqui está outra citação de Brian Becker, líder da coligação ANSWER:

"O Pentágono e o exército sul-coreano hoje (e durante o ano passado) têm  organizado jogos de guerra em massa que simulam a invasão e bombardeio da Coreia do Norte. Poucas pessoas nos EUA  sabem qual é a real  situação . O trabalho da máquina de propaganda de guerra é projetado para assegurar que o povo americano não se unam  para exigir o fim  das ações perigosas e ameaçadoras do Pentágono na Península da Coréia.
A campanha de propaganda está em pleno andamento agora enquanto o Pentágono está na acelerada escalada de intensificação  na parte mais militarizada do mundo. A Coreia do Norte é considerada  o instigador e agressor sempre que alega que tem o direito de defender seu país e capacidade de fazê-lo. Mesmo quando o Pentágono simula a destruição nuclear de um país que já tentou bombardear e reduzi-lo á  Idade da Pedra, os meios de comunicação  de propriedade das grandes corporações caracterizam este  ato extremamente provocativo  como um sinal de determinação e uma medida de auto-defesa " .
Segundo o  StratforA "agressividade" de Pyongyang é quase inteiramente verbal (talvez vários decibéis muito elevados para os nossos ouvidos), mas a Coreia do Norte é um país pequeno em uma situação difícil que bem recordam  da extraordinária brutalidade que Washington infligiu ao seu território em 1950. Milhões de coreanos morreram. Os bombardeios  de saturação dos EUA foram criminosos. A Coreia do Norte está decidida a morrer lutando se isso acontecer novamente, mas espera que sua preparação [militar] impeça  a guerra e leve  a negociações e um acordo.

Seu exército grande e bem treinado é defensivo. O objetivo dos foguetes que estão  construindo  e falar de armas nucleares é basicamente assustar o lobo está na porta da casa. A  curto prazo, a recente retórica encenada  por Kim Jong-un é uma resposta direta à guerra simulada, este ano, durante um mês pelos EUA e a Coreia do Sul, interpretada  como um possível prelúdio para uma outra guerra. O objetivo de Kim é criar a longo prazo uma crise o suficiente inquietante  para que os EUA finalmente aceite as negociações bilaterais, e, possivelmente, a um tratado de paz e a saída das tropas estrangeiras.
Esperamos  que o confronto atual vai se acalmar depois que terminar os jogos de guerra. A administração Obama não tem a intenção de criar as condições propícias para um tratado de paz, especialmente agora que a atenção da Casa Branca parece absorvida no Leste da Asia , onde percebem uma possível ameaça à sua supremacia geopolítica.
Fonte: rebelion.org

Sem comentários:

Enviar um comentário